A procissão ainda vai no adro, mas nove jogos já foram suficientes para expor várias fraquezas da equipa dos Três Super-Amigos. É claro que ainda é cedo e até aos playoffs ainda há muito tempo para corrigir erros e melhorar processos, mas estas primeiras semanas da NBA já nos deram duas receitas diferentes para bater a equipa de Miami.
A primeira foi demonstrada de forma exemplar pelos New Orleans Hornets:
- o pick and roll alto, entre o base e o poste, com penetrações constantes do base a explorar os buracos e as más rotações da defesa.
Os Hornets fizeram essa jogada durante todo o jogo e todos os ataques em meio-campo começavam invariavelmente com esse movimento. Chris Paul desmantelou a defesa dos Heat ao ritmo de 13 pontos e 19 assistências (!).
Depois de receber o bloqueio de Emeka Okafor (e às vezes de David West), Paul penetrava para o cesto e explorava várias opções, dependendo da reacção e posição dos defesas: penetrar e lançar na passada, lançar de fora, penetrar e assistir para o poste que desfaz do bloqueio, penetrar e assistir para um dos jogadores que cortam para o cesto ou penetrar e assistir para os atiradores no perímetro.
Se a ajuda não surgia (ou surgia tarde), Paul penetrava e lançava na passada. Se o jogador interior do lado contrário (Chris Bosh ou Udonis Haslem) vinha à ajuda, Paul assistia para David West. Se esse jogador ficava com West, Okafor ficava sozinho com lançamentos fáceis perto do cesto. Okafor recebeu a maior fatia das assistências de CP3 e terminou com 26 pontos, com 12-13 em lançamentos 2pts.
(Não por acaso também os Jazz venceram os Heat. Qual a sua principal arma? O pick and roll, com Deron Williams a terminar esse jogo com 21 pts e 14 assistências e Paul Milsap a marcar 46 pontos)
A segunda foi demonstrada já por duas vezes pelos Celtics, no primeiro jogo da época e novamente esta noite passada:
- bloqueios na linha de fundo, realizados pelos jogadores interiores, para libertar lançadores
- colocar a bola no poste baixo
Com os bloqueios na linha de fundo para libertar Ray Allen ou Paul Pierce, os Celtics conseguiram 56% nos lançamentos de 3 pts frente a uma equipa que tem a defesa do perímetro como um dos seus pontos mais fortes.
A maioria das equipas consegue os seus lançamentos de 3 pontos com penetrações para o cesto e assistências para fora. A defesa dos Heat é forte a defender esses movimentos porque tem jogadores como Wade e James: com tamanho e velocidade que lhes permite ir à ajuda quando há a penetração e sair novamente ao lançador quando é feita a assistência para fora.
Mas os Celtics contornaram esse ponto forte, com bloqueios dos postes na linha de fundo e movimentações laterais de Allen e Pierce. Assim prendiam James, Wade e das duas uma: ou Allen e Pierce conseguiam lançamentos sozinhos ou um dos jogadores interiores dos Heat era obrigado a sair ao lançamento, o que libertava Garnett (ou outro bloqueador) no interior.
Outra estratégia foi colocar a bola em Garnett (ou Shaq ou Glen Davis), a poste baixo, explorando a superioridade sobre Bosh (ou Joel Anthony ou Ilgaukas). Os postes de Miami, mais lentos ou menos fortes, eram batidos constantemente no um contra um e, se vinha a ajuda do poste do lado contrário, os postes dos Celtics assistiam (fizeram várias combinações poste-poste ao longo do jogo). Se a ajuda vinha do jogador do perímetro? Assistência para fora e mais um triplo dos Celtics.
E, a orquestrar tudo isto, Rajon Rondo, que operava no perímetro sem pressão e distribuía assistências a seu bel-prazer (terminou com 16).
De um lado temos um jogo muito colectivo dos Celtics (com várias possibilidades de começar as jogadas), do outro um jogo mais específico e especializado dos Hornets (sempre com o mesmo início e possibilidades em aberto a partir daí), mas ambos expõem e exploram as mesmas fraquezas dos Heat: debilidade do jogo interior e da defesa interior dos Heat e a fragilidade da posição de base.
Duas receitas diferentes, o mesmo resultado: vitória sobre Miami.